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terça-feira, 3 de junho de 2014



A actriz AnnaLynne McCord, especialmente conhecida pela participação na série “Nip/Tuck”, faz um testemunho íntimo e emotivo na revista Cosmopolitan, abordando o abuso físico dos pais e o abuso sexual por parte de um amigo.

AnnaLynne McCord / Instagram

Num artigo escrito na primeira pessoa, AnnaLynne McCord, também conhecida por participar nas séries “Dallas” e “90210″, assume que está “em modo espírito guerreiro” e diz que conta a sua história agora porque acredita que “é o momento de falar sobre a verdade“.
Eis alguns dos extractos do depoimento de AnnaLynne McCord na Cosmopolitan…
                                    

Cresci numa família extremamente religiosa e conservadora na Georgia [...] As minhas irmãs e eu raramente podíamos ver televisão [...]. Nunca falávamos de sexo. Nem sequer era suposto beijarmos alguém até nos casarmos. Era como se vivêssemos em 1902.
Os meus pais acreditavam numa “disciplina” rigorosa, como lhe chamavam – eu chamar-lhe-ia abuso. Os castigos eram dolorosos e ritualísticos. Tínhamos que nos debruçar sobre a cama, às vezes com as cuecas em baixo, os braços esticados, e éramos espancadas – com uma régua quando éramos mais jovens e depois com um remo que os meus pais compraram quando acharam que a régua não era suficientemente forte.
Achava tudo muito confuso. Sei que eles faziam o que achavam que estava certo para disciplinar os seus filhos. Mas aquilo realmente perturbou-me. [...] Quando tinha 15 anos, terminei a escola e os meus pais divorciaram-se. Entre a agitação, tive oportunidade de os convencer a deixarem-me assinar com uma agência de modelos. Mudei-me para Miami e fui viver num apartamento com outras oito modelos.
Sozinha pela primeira vez, conheci muitos rapazes excitantes. Tinha intensos sentimentos sexuais malucos — a energia e o desejo que um homem tinha por mim era atraente. Tornei-me um pouco promíscua, mas não tive verdadeiramente sexo. Chegava mesmo ao ponto com o rapaz e depois parava, a pensar que ia para o inferno. Então ia para a Igreja para me limpar. Ao mesmo tempo, levava os homens a serem violentos comigo. Afinal, como tinha aprendido na minha infância, as pessoas que gostavam de mim magoavam-me.
As minhas relações sexuais eram escuras e violentamente dramáticas.
Quando tinha 18 anos, mudei-me para Los Angeles para fazer audições para papéis. O meu namorado tinha planeado mudar-se mais tarde. Uma noite, um rapaz amigo telefonou. Disse que precisava de uma boa noite de sono para uma reunião, já que estava a ficar no sofá de alguém. Eu conhecia-o há algum tempo, então disse-lhe para vir e instalei-o. Sentámo-nos na cama e falámos durante um bocado, então adormeci. Quando acordei, ele estava dentro de mim.
No início, senti-me tão desorientada e entorpecida que fechei os olhos e fingi que estava a dormir. Pensava se teria feito alguma coisa que lhe teria dado uma ideia errada. Tive medo de o zangar. Acreditem ou não, não o queria ofender. Só queria que acabasse. A minha infância tinha voltado para me atormentar de novo: por causa do abuso físico, não sabia que havia fronteiras entre o corpo de outras pessoas e o meu. Não sabia que tinha uma voz.
Não disse a ninguém… Agi como se fosse forte – fingi ser forte. Nos meses seguintes, comecei a entrar no escuro. [...] 
Por esta altura, consegui um papel em “Nip/Tuck”. A minha personagem, Eden, era confiante, sexy, audaciosa. Mas, em privado, eu cambaleava. Guiava até um lugar isolado, estacionava debaixo de uma árvore e escrevia poesia negra no meu braço, então cortava-me com uma faca imensamente afiada, esfregando-me no sangue.
Tinha comprimidos e água numa mão e pensei seriamente em matar-me. Não tinha medo da morte – parecia uma solução. Quando se está dessa forma, não se pensa que o suicídio é uma coisa egoísta. Pensa-se que se está a fazer um favor a toda a gente.
Depois disso, com alguma ajuda profissional, comecei a enfrentar o meu passado – todo. Leio livros sobre psicologia e filosofia, perdoei-me por não me ter defendido… Conheci uma mulher chamada Somaly Mam que salva raparigas da escravatura sexual no Sudeste da Ásia. As raparigas são raptadas ou vendidas com apenas 4 ou 5 anos. Vivem em bordéis sujos onde são violadas todos os dias. Num dos abrigos de Somaly, no Camboja, conheci dezenas de jovens sobreviventes. Tornaram-se minhas amigas, minhas irmãs. Ajudando-as a curarem-se, comecei a curar-me a mim própria.
Precisei de uma jornada inteira para chegar ao lugar onde estou hoje. Tenho 26 anos e visito o Camboja todos os anos. [...] Tenho a minha família: estamos todos em contacto. E tenho uma intimidade profunda com o homem que amo, Dominic Purcell. Tenho sexo maravilhoso e alucinante com o meu homem e já não me provoca culpa ou vergonha.
E sobretudo, tenho a minha mensagem para as mulheres e para as raparigas: vocês têm uma voz. Não se coloquem numa caixa. Não deixem as mentiras diplomáticas da sociedade silenciarem-vos. Honestamente, passaria por tudo de novo – levou-me à minha própria revolução.

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